coincidências de inverno

Saí eram três horas da tarde. As nuvens como que, sacudiam a chuva com uma intensidade excessiva, e os ventos como que suspiravam demasiado intensamente ao meu ouvido. Sem dúvida que se tratava de um dia de inverno. Apressei-me por chegar ao primeiro café que vi e antes de me sentar, de pedir o meu carioca e de sacar da mala o meu bloco de notas como que forçando a caneta a conduzir os meus dedos à escrita, reparei que também tu deverias ter passado por o meu drama de dia e também tu deverias ter entrado no primeiro café da esquina, que por acaso era o meu. Ri-me durante cinco segundos pois nao queria que me visses nem que reconhecesses o meu riso inconfundível e sentei-me duas mesas atrás de ti, de frente para as tuas costas mas perto o suficiente para conseguir reparar que estavas a usar o perfume que te tinha oferecido no natal passado.
Depressa a surpresa de te ver e a felicidade que isso me trouxe se desvaneceu por me aperceber que ainda estava na era errada e que agora já não podia sentar-me à tua frente sem pedir, nem chegar-me a ti para te abraçar, nem que, resumidamente, podia fazer tudo aquilo a que estava tão bem habituada a fazer.
Sim eu sei.. sei que tudo aquilo, tudo o que éramos nós acabou com a célebre frase de que continuariamos bons amigos, como no ínicio e que no fundo era isso que ambos queríamos mas que também tínhamos a noção de que não iria acontecer. Porque afinal, diz-me como poderia ser eu tua amiga se continuo com este fascinio por ti? Como poderia eu dar-te a mão ou rir-me contigo sem me lembrar de todo o passado que nos envolveu? Como conseguiria ser eu naturalmente espontânea contigo se tinha que ter um controle constante sobre as minhas emoções? Admiro se há alguém que o consiga, mas esse alguém não me cobre a mim.
Nós somos as escolhas que fazemos e, fazer escolhas é o mais dificil da nossa vida, porque acabamos por perder sempre algo que não queríamos só porque não podemos ter pelo menos aquilo que seria justo termos, nem que não fosse por nós mas sim para não magoarmos aquilo que não escolhemos. Eu escolhi não te ter e sei que, infelizmente, vou carregar com esse fardo e com tudo o que ele implica para o resto da minha vida. Não me arrependo, pois não poderia não ter-te deixado, só não queria acordar todos os dias com esse fardo ao meu lado, com esse peso que me lembra de como não me magoei só a mim mas também a ti, e acredita que esse é o pior fardo que eu posso carregar.
Vejo-me sem poder ir ter contigo e dizer-te que tenho um orgulho imenso em ti e naquilo que tu és e que, por vezes, foste para mim, queria muito sentar-me à tua frente, olhar-te e ler-te os olhos só para saber se estavas no mesmo impasse que eu, queria poder perguntar-te se aceitarias um jantar meu só para conversarmos sobre o que somos agora, incompletos. Queria muita coisa que não posso devido à escolha que fiz e que tinha que fazer e, é só isso que me entristece, ter-te perdido, não para sempre, mas completamente.
Acabei o meu café, acabei de escrever sobre ti, acabei de pagar, acabei de sair e de, por uma saudade infinita de ti e de não saber quando te voltaria a ver, espreitar mais uma vez pela janela do café e verificar que eras mesmo tu, que eu não me tinha enganado.

MB