revolutionary road



   Não sei definir o espaço nem o tempo, porque não sei onde estou, mas que simplesmente estou, assim como não sei que dia hoje marca o calendário mas que simplesmente algum dia deve marcar porque o mundo não parou. Não. Continuo a ver as pessoas de sempre, continuo a ver o stress desgastante da minha cidade, continuo a ver sorrisos e choros, continuo a ouvir as buzinas e o som do piano do meu vizinho. Só eu é que parei. Só eu é que pressionei o botão pausa na minha vida e não percebo porquê. Será por já não conseguir mais continuar vivendo monotonamente e cinicamente com os outros? Será que perdi a capacidade de fingir que está tudo bem e como desejado? Será que perdi.. aquilo, como se chama, de boa educação e passei a ser daquelas pessoas que diz e faz o que sente sem pensar duas, três, quatro vezes? Será que passei de um extremo a outro? Uma pessoa que pensava demais a uma pessoa que agora pensa é de menos?
  Eu não sei o que me aconteceu. Não sei se foste tu que me tornaste assim. Tu que nem pensavas, só vivias, só sentias, tu que até desfrutavas e aproveitavas os ínfimos pormenores da vida para te fazerem feliz, tu que gritavas os bons dias ao mundo da tua janela e que cantarolavas pela rua sem medo que te ouvissem. Porque tu querias que te ouvissem, querias mostrar a todos os outros que eras feliz, querias mostrar que eras um ser diferente que vivia no seu próprio mundo desinibido e alheio aos olhares e ouvidos do outro universo de fora.
Pois eu estou com o dedo por cima do botão play na minha vida e vou continuar sem o pressionar até ter a coragem que quero ter, que tu tens, para viver realmente as coisas, para as sentir realmente, para fugir das regras e padrões e sair deste vazio que me consome por ser tão medíocre e exasperante. Preciso de me importar com a vida, preciso de me importar verdadeiramente e conseguir sorrir a rir e não sorrir porque é preciso rir naquele instante. 
  Podem chamar-me de louca, irresponsável ou infantil que eu não vou dar conta. Porque se é preciso ser tudo isso para se ser feliz e abrir os olhos a tempo de não os fechar para sempre, se é preciso assumir toda essa identidade para acordar todos os dias de manhã com um olhar cheio de luz e esperança de ser aquilo que se sonha, aquilo que sempre se quis ser, então, porque haverei de me importar? Não suportará a minha felicidade espontânea e realizada tudo isso?
  Quando me apetecer dançar vou dançar, quando me apetecer escrever irei escrever nem que seja com uma pedra a gatafunhar o chão, quando me apetecer rir bem alto, rirei, quando me apetecer abraçar e dar os bons dias à minha janela, como tu fazes, darei. Vou abrir esta porta que se impõe como fechada porque mantenho a minha vida numa pausa e vou carregar no play. Vou fazer aquilo que de melhor aprendi contigo, a ser eu efectivamente.

MB

11 comentários:

luis nuno barbosa disse...

mais um texto fantástico da senhora maria beatriz! adorei =)

sabes? a loucura, na verdade é o que dá mais sentido à vida. Já dizia Fernando Pessoa (acho que era no poema D. Sebastião, da Mensagem): "sem loucura o que é o homem, mais que a besta sadia, cadáver adiado que procria?"

luis nuno barbosa disse...
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an disse...

eu estou aqui

luis nuno barbosa disse...

óh xD

Carolina Jorge disse...

É aquela página em branco do novo capítulo do livro da tua vida, só tens de escrever a primeira palavra, o resto flui. Por loucura, ou só por simplicidade, ou por absolutamente razão nenhuma, "ser é escolher-se". Chegamos lá. (quando te apetecer chama-me, quando te apetecer falar, liga-me). amo-te

Áries disse...

Tens uma maneira de pensar mesmo fantastica. Deviamos ser todos assim. Adorei ** continua assim

Mara disse...

Olá :)
Agora o meu blog só é visível a leitores convidados. Queria muito continuar a abrir-te as portas do meu cantinho. Se estiveres interessado manda-me o teu mail. Apago-o assim que o apontar para não ficar publicado;)

Maria Francisca disse...

Olha, uma vez uma amiga minha escreveu uma história numa nota de 20 euros. Não tinha mais onde escrever e escreveu aí.
Acho que fazes bem, Beatriz. Viver intensamente faz bem a todas as pessoas.

Rumo das palavras disse...

«Só eu é que pressionei o botão pausa na minha vida e não percebo porquê.», não podia concordar mais, as minhas férias foram de uma pausa absoluta e irritante

Mara disse...
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Anónimo disse...

Dentro desse olhar vejo regularmente esse vazio e espero, impaciente, pelo momento certo para dizê-lo. um dia vais sabê-lo, podes já desconfiar, mas nunca desconfiarás de todo o amor que tenho para te dar. talvez nunca chegarás a saber, nenhum de nós quer sofrer.