Amantes em silêncio

"...deixamo-nos ficar sentados a observar o mundo à nossa volta. Levamos uma vida inteira a aprender a fazê-lo. Parece que só os velhos são capazes de se sentar lado a lado sem dizer nada e sentirem-se contentes na mesma.
Os jovens, impetuosos e impacientes, têm sempre de interromper o silêncio. É um desperdício, pois o silêncio é santo. Une as pessoas porque só os que se sentem à vontade uns com os outros é que conseguem estar sentados lado a lado sem falar. É este o grande paradoxo..." Nicholas Sparks - O Diário da Nossa Paixão

 

Chiu. Cala-te por um momento. Não precisamos de falar agora, vive o silêncio e escuta-o bem. Ouve a sua voz. Concentra-te. Consegues ouvir? O meu coração? Está caloroso e inquieto porque cruzas os teus dedos com os meus, porque me olhas assim tão apaixonadamente e porque me enrolas as madeixas do cabelo sem sequer te dares conta. Tu falas demais. Não precisamos de preencher todos os nossos segundos com palavras. Não precisamos disso. O silêncio fala por nós de uma maneira tão incrivelmente verdadeira que não é necessário dizeres-me o que pensas porque eu já o adivinhei entretanto. E isso, o nosso silêncio dos amantes é tão puro e tão nosso. Completa-nos de uma forma tal que nem te apercebes porque não que me canso de permanecer uma, duas, três ou uma infinidade de horas somente a olhar para ti. A reparar em ti realmente e não a assimilar de como é o teu rosto, pois isso nunca partirá da minha memória, mas sim a vislumbrar todos os pormenores que te tornam belo. E são esses ínfimos detalhes que não posso perder nunca dos meus olhos ou das minhas páginas de histórias pois são eles que te definem, foi por eles que me apaixonei e por isso mesmo não me canso e sei, nunca me cansarei, de perder o meu tempo a contemplá-los. A expressividade dos teus olhos, o teu doce sorriso que me encanta, fazendo com que o meu coração, tal como agora pareça desorientado nas suas palpitações, as tuas rugas de expressão, os teus lábios, os nós das tuas mãos macias e suaves, a tua testa franzida quando não me entendes, o teu rosto de criança ou a tua expectativa quando esperas que te responda a uma declaração inesperada cujas palavras vêm direitas do teu coração é aquilo que me faz adorar o nosso silêncio, permitindo-me assim que te fixe melhor em mim, permitindo que aproveite o espaço e o tempo a analisar minuciosamente a arte que tu és.  

Tu não sabes, nem sonhas, o quão são mágicos estes momentos onde as nossas respirações, os nossos corações, os nossos olhares, as nossas expressões, os nossos gestos ou a nossa cumplicidade são os únicos acontecimentos a serem vividos, sentidos, escutados. São estes instantes que escrevem a nossa história de amor, são eles que provam o quão forte e imenso ele é, pois são neles que as palavras voam perdidas no silêncio, direitas ao nosso coração, como se as soubéssemos de cor. São nessas circunstâncias que eu e tu falamos sem emitir um único som, falamos a olhar-nos e a sentirmo-nos. E questiono-me eu, haverá algo mais verdadeiro e genuíno do que amar em silêncio?

MB