O teu adeus

    O sol já espreita pelas cortinas da minha pequena sala e estou sentada no sofá que era o teu, tentado assumir a tua forma e alimentado as saudades que tenho tuas mas apesar de tudo não me lamento. Não posso lamentar-me de uma situação pela qual me avisavas quase todas as noites quando me dizias que nunca poderias ficar para sempre, que nunca poderias viver só para mim, por muito que quisesses, por muito que me amasses. Questiono-me então como posso eu reprimir-te ou acusar-te de abandono se apenas cumpriste com as tuas palavras? Simplesmente não posso, nem quero.
  Mas sabes, mesmo sabendo de tudo isto, mesmo sabendo que a minha casa nunca seria a tua e que o teu cheiro nos meus lençóis acabaria sempre por desaparecer quando abrisse a janela do meu quarto, eu não me arrependo, nunca do tempo que partilhei contigo. E arrisco dizer que voltaria a fazer tudo igual, talvez retirando só um pouco da fantasia e esperança que eram notáveis no início da nossa história.
  Antes de te conhecer eu tinha uma visão diferente do que era o amor, achava que tinha que durar para sempre ou perdia os meus dias a pensar em insignificâncias que não trazem a felicidade mas contigo aprendi que não é assim que se vive o amor, que não é assim que as coisas devem realmente ser. Mais do que a pessoa maravilhosa do que tu és e de todas as recordações que guardo no meu coração o que mais ficou de ti em mim foi essa tua forma de ver o mundo. Contigo descobri que as pessoas vão e vêm e que nós temos apenas por ilusão que as podemos prender para sempre connosco, contigo compreendi que por isso mesmo devemos desfrutar os momentos como momentos que eles são, não perdendo tempo com superfluidades ou futilidades mas sim entregando-nos realmente àquilo que vale a pena e que merece a nossa dedicação. Tal como tu merecias.
  Todas as noites ansiava o toque da campainha da minha porta, e todas as noites em que a ouvia esquecia todos os outros, esquecia o mundo lá fora e o meu mundo passava a seres tu. Nesses instantes sabíamos ambos que não haveria amor maior que aquele que era de amantes, nesses instantes deixavas em mim o mais que podias de ti ou sussurravas a palavra "amo-te" naturalmente como respiravas. São esses instantes que nós éramos e são eles que fazem a nossa história que tem agora a sua conclusão.
  Assim, hoje não vou esperar por ti, nem amanhã ou depois. Mas saberei sempre que eu serei, a partir de agora, o teu amor platónico e que isso sim, durará para a eternidade.

MB

2 comentários:

Carolina disse...

Gostei TANTO! Está perfeito :D
Grande beijo minha Maria *

souokiko disse...

Textão :') gostei gostei!